Thursday, August 01, 2013

SEVEN DAYS

Tudo escuro. Não sei como despertei mas não vejo. Minha única opção são os sentidos, está tudo escuro. Tateio ao meu redor mas não acho nada. "Estou cego", meu primeiro pensamento. "Mas não, acho que não" está tudo escuro. Tento me lembrar, mas nada me vem à mente, nada. Não me resta outra alternativa, vou ficar aqui... Adormeço, mas não sonho. Acordei com um clarão no rosto não sei o que é isso mas me despertou. Me tirou do meu sono e do meu sossego. Mas onde eu estou só vejo um brilho intenso. Ontem era o nada, hoje é essa claridade que me desperta. Me refugio no escuro, é melhor, mais cômodo. Meus olhos não acostumaram com o brilho. Fico no escuro tentando ter forças para levantar e encarar a claridade. Como eu vou fazer isso. Está tudo muito confuso, não quero sair de onde eu estou. A claridade está mais nítida, consigo definir as formas ao meu redor. É um quarto relativamente pequeno, sem muitos móveis, somente uma cama de solteiro, uma estante marrom, e uma televisão ligada. Do meu lado direito tem uma janela, é de lá que vêm a claridade. Corro para aquele lado e fecho a janela. Não quero mais o claro. Gosto do escuro. Um pastor grita na TV, palavras sobre Jesus, Deus, amor. Estou repentinamente tonto. Não sei diferenciar as formas, e simplesmenté apago. - Ahhhhhhh! O que é isso? - Grito desesperado sem saber onde estou - Espera eu estou no banheiro! Porque estou no banheiro? A banheira estava cheia, transbordando, estava muito estranho como a banheira estava ligada e eu lá, não entendia nada. Nenhuma dica do porquê eu estava ali, o porquê a banheira estava derramando. Mas achei um canto seco para me refugiar e sair daquela inundação. Uma ideia meio maluca surgia em minha cabeça. Como seria andar na água. Eu conseguiria. Como eu podia estar em um tempo que eu não sabia onde e quando era. As coisas estavam se firmando e se formando em minha cabeça. Sabia que estava no meu quarto, mas o que estava acontecendo. Isso me afligia. Tinha uma certeza estava pisando em terra firme. Aquilo que eu pisava era chão. "Pensa Roberto, o que aconteceu ontem". Onde eu estava, o que estava fazendo. Como eu fui parar ali. Eu dormi ontem na minha cama eu tenho certeza. Mas o que aconteceu depois. Será que tem alguém aqui. Só tenho essa explicação, tem alguém aqui. Mas quem? Não vi ninguém aqui ontem. - O que aconteceu?- que voz é essa, quando eu tento me virar para identificar a pessoa. Sinto uma picada no braço. Grito de dor. Apago. Estou num campo de flores,céu azul, um campo lindo, umas das mais lindas paisagens que eu já vi. Morri. Porém ainda estava vivo, porque escutava os pássaros lá fora. Não sabia onde estava, não tinha nada a minha mão, somente uma televisão, estava deitado em uma cama, tinha uma cadeira ao meu lado, vazia. A televisão estava ligada, em um canal de peixe, eu não sabia o que estava acontecendo, mas estava ficando mais calmo, talvez seriam os peixes ou o barulho dos pássaros ou nem isso nem aquilo. Eu estava começando a me lembrar, meu pai, mas o porquê ele tinha me dado aquela injeção o porquê ele estava ali. Uma dor imensa de cabeça começou eu não aguentava mais, e com tanta dor eu desmaiei. Tinha acordado no meio da madrugada estava sozinho no quarto, mas lembrava nitidamente da voz daquela pessoa. Uma voz firme assustada. Agora eu estava bem. Incrivelmente a janela estava toda aberta e eu via o nascer do sol. O laranja tomando todo o céu. E o sol tomando conta de toda a terra e da escuridão se impondo, como um grande rei, a estrela maior. Depois do espetáculo natural, escutei aquela voz masculina mais uma vez, virei era meu pai. Tinha uma injeção na mão direita, e com a esquerda me agarrava no meu braço direito. Eu não conseguia me desvencilhar, por causa de sua força eu estava completamente atordoado com a situação. Meu próprio pai que me criou. Fui ficando cada vez mais fraco. Que droga era aquela. Me deixava cada vez mais fraco. Ele me olhava e eu caindo, mas de repente notei algo em seu olho direito, uma lágrima descia sua face, nas minhas últimas forças com aquela droga perguntei para ele: - Porquê? Ele me respondeu, mas eu não ouvia mais, só vi seus lábios se mexendo. Cai e vi que ele andava até a janela, gentilmente a fechou. Olhou pra mim e ajoelhou. Minha última imagem do meu pai naquele dia foi essa. Quando eu olhei para o lado aquela cadeira não estava mais vazia, meu pai estava ali. Estava de cabeça baixa não emitia um som, eu sabia que ele chorava. Eu nunca vi o meu pai chorando. Quando eu comecei a criar um pouco de força a primeira pergunta que me veio a mente foi: - Porquê? - Meu filho eu não saberia o que dizer, mas irei ser o mais franco possível. Primeiramente me desculpe por... - Mas porque você é meu pai, o que aconteceu. - Você está morrendo filho. Aquilo foi um choque pra mim como assim. Morrendo eu não podia morrer era jovem. -Mentira. Como assim? , - Você esta com... Eu não entendia nada. Somente a palavra morte norteava minha mente. Eu iria morrer. E o que ele estava fazendo. - E você o porquê esta aqui, porque eu estou aqui? - porque você esta morrendo, essa doença não tem cura, e você me pediu, me implorou,...., para eu acabar com o seu sofrimento,,.....- meu pai começou a chorar. Não conseguia parar de chorar. Acordei desnorteado no outro dia, já estava na cama, olhei pra frente e tinha um espelho não tinha notado ele ainda. O quarto estava em meia luz, mas consegui ver minha imagem, estava deplorável, com uma sonda no braço. Muito magro, pálido, Não tinha noção de tempo Despertei E em meios a sustos e sonhos conturbados descobri onde estava, mas quando estava ainda era um mistério, que eu não conseguia desvendar. E eu deitado ali não estava entendendo nada. Tudo havia acabado, minha vida, e algumas coisas passaram pela minha cabeça sonhos. Sonhos de uma vida não vivida. Sonhos acabados. Depois veio a paz, algo me relaxava a possibilidade de vir a morte não me assustava. E então eu entendi tudo, o porquê eu estava ali o porquê meu pai estava ali, e chorando copiosamente. Eu estava morrendo e tinha desistido de viver, ou melhor, tinha desistido de sofrer, e vivi mais intensamente nesses últimos dias ninguém iria entender. Essas serão minhas últimas palavras. Obrigado.